A ESCOLA VAI AO ALBERGUE MONSENHOR JOSÉ NETO

A Escola Professora Izaura Antonia de Lisboa (EPIAL) em 11 de Setembro de 2017 realizou uma visita social ao Albergue Monsenhor José Neto. Na oportunidade participaram da visita alunos das turmas de PI (Projeto Integrador) da 1ª série A, 1ª série B e 2ª B. Alguns alunos realizaram uma entrevista com a Presidente do Albergue, senhora Isabel Cristina. A partir da entrevista foi organizada pela professora Lindinalva Miguel da Silva e alunos da turma de Projeto Integrador do 1ª série A uma peça teatral.



A seguir pode-se lê parte da entrevista organizada em peça de teatro.

1ª Questionamento da entrevista:

ALUNO 1: Senhora Isabel Cristina conte-nos como surgiu o seu interesse em construir o albergue Monsenhor José Neto e qual foi sua motivação:

ISABEL CRISTINA: Há uns 10 anos atrás eu vivenciei uma experiência de fé chamada Catecumenato, e lá frequentando às reuniões na Igreja, teve uma palavra em São Mateus capitulo 25, 31ss, onde falava:

“31 E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;
32 E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;
33 E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.
34 Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
35 Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
36 Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.
37 Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
38 E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
39 E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
40 E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
41 Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;
42 Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;
43 Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.
44 Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
45 Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.
46 E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna. (Mateus 25:31-46).

ISABEL CRISTINA: Sou comerciante e desde os 8 anos de idade que trabalho, sempre trabalhei muito na minha vida, uma luta constante.
Um dia eu estava vindo de São Paulo de ônibus, tinha ido buscar uma mercadoria para vender na minha loja e, comecei a pensar na passagem da Sagrada Escritura. A partir desse momento eu senti no meu coração Deus me enviando para uma missão, eu senti uma grande alegria, porque eu tenho as minhas limitações e quando percebi que Deus estava me usando para algo bom, para um “servir” eu fiquei feliz...

 “Esse foi o primeiro entendimento, um sentimento de alegria, mas, quando eu comecei a pensar nas pessoas para me ajudar nesse projeto de Deus, comecei a sentir medo”.

E, realmente não foi fácil, os meus primeiros obstáculos foi em casa, com meu esposo, meus irmãos, pai, mãe, meus conhecidos e meus amigos, eles diziam que um Albergue era obrigação do Estado, que eu estava louca, que Arapiraca não tinha população em situação de rua, porque eu estava fazendo isso.
“Eu tinha certeza, porque Deus tinha colocado em meu coração, então essa Missão que recebi de Deus, em 2010 e, foram 7 anos de luta, procurando lugar, fazendo pesquisas enfim, para poder vê como seria feito.

Nesses anos os obstáculos foram sendo vencidos, os meus familiares começaram a concordar, alguns mais e alguns menos e, em 2013 eu já estava com 3 anos de Projeto, ainda não tinha começado a construção, eu e uma irmã (irmã de sangue) decidimos entrar numa faculdade de serviço social, para que a gente pudesse aprender como instituir a ONG (Organização não governamental).

E a minha motivação é realmente está matando a fome de quem tem fome. Quando eu chego no Albergue a noite, que todos vão dormir e que eu olho e todos estão limpinhos e bem alimentados, essa é a minha maior alegria.

ALUNO 2: Bom tarde! Senhora Isabel Cristina, fale-nos sobre os seus desafios para manter financeiramente, socialmente e espiritualmente o Albergue e cite algumas pessoas que colaboram com o Albergue.

ISABEL CRISTINA: Meu primeiro desafio foram os meus familiares. O segundo desafio: como organizar a ONG ? era tudo tão novo para mim, eu não tinha nenhum outro modelo por perto, para ter uma ideia de como seria, um Albergue.

Na verdade na instituição desse Albergue eu percebi que na vida, nós temos muitas alternativas. Muitas vezes nós não abrimos nosso visão para o novo. Então, um dos desafios para enfrentar, como eu iria pagar os funcionários para tomar conta do Albergue? Daí eu pensei: Meu Deus eu não tenho como pagar.

 Então me veio a inspiração, que Deus me deu de trabalhar com o voluntariado, no senso comum, ao pensar até nos meus conhecidos, eu pensei ser impossível, pois estamos vivendo uma cultura capitalista, as pessoas visam sempre o que ganham. E aqui a gente não trabalha com dinheiro, aqui ninguém paga e ninguém recebe, aqui a gente nem pega em dinheiro, dinheiro aqui é o amor, o preço de tudo é o aqui é o amor.

 Tivemos os desafios em relação a documentação, porque até os advogados não sabiam como fazer. A gente procurou advogados particulares para pagar e não conseguimos ninguém que fizesse a documentação.

E, graças a Deus no 7º período de faculdade de serviço social, tinha lá uma matéria que dizia: como montar uma ONG passo a passo.
 Foram tantos os desafios... no dia que nós viemos para lavar o Albergue, eu me machuquei e começou a sangrar, daí eu comecei a chorar de alegria, porque isso aqui estava sendo construído, a custo de sangue, suor e lágrimas.

Muita gente fica pensando que eu tenho muito dinheiro, mas eu não tenho plano de saúde, não tenho casa de praia, meu carro é velhinho, não tenho nada chique, vivo de forma simples, não gosto de privilégios.

Isabel Cristina citou durante a entrevista uma empresa da Terra de Arapiraca que é fiel nas doações de alimentos para os Albergados e outras empresas que contribuem em algumas ocasiões, como também algumas pessoas da região.

Fizemos uma campanha entre amigos para consegui a mobília, foi assim: uma tia deu a geladeira, a minha mãe o fogão, uma pessoa dava uma cama, outra dava uma mesa... Fizemos uma campanha na Paróquia e muitas pessoas ajudaram.

A gente instituiu o Albergue em dezembro de 2015, mas ele começou a funcionar em maio de 2016.


ALUNO 3: Senhora Isabel Cristina você falou dos desafios, mas quais os pontos positivos em relação a implantação do Albergue ?

ISABEL CRISTINA: Os moradores de rua chegam muitas vezes muito sujos e quando chegam eles ganham roupas limpas para dormir. Quando eu vejo eles todos sentados nas mesas, limpinhos e jantando eu tenho uma enorme alegria. É uma grande alegria quando vejo eles todos dormindo, numa cama limpa, bem alimentados e bem protegidos.

 No senso comum as pessoas dizem que o ser humano só é capaz de fazer o que a gente faz se for por dinheiro, às pessoas pensam que o governo paga. Mas, tudo é aqui é conseguido através de doações e de trabalhos voluntários.

 Muita gente pensa que fazer caridade é dá esmola, não é. Olhe as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade e sendo a caridade a maior delas. A caridade não é dá esmola não, viu? Caridade é Amar! A gente tem que amar para que o outro se sinta bem. Caridade não é dá dinheiro, quando a gente dá dinheiro, na maioria das vezes a gente está querendo se livrar daquela pessoa, a gente está querendo distância.

Temos 4 equipes de voluntários, uma equipe que se chama ORIENTADORES SOCIAIS, EQUIPES DE COZINHA (02), E O GRUPO DE PERNOITEMOS.

Aqui a linguagem que funciona é linguagem do amor, não adianta ficar brigando com eles, porque eles são professores no que há de ruim nas ruas. A linguagem do AMOR funciona, a linguagem do amor é novidade para eles.
Portanto, os alunos das 3 turmas citadas anteriormente, puderem fazer outras perguntas para a presidente do Albergue Monsenhor José Neto e trocaram ideias sobre a importância deste trabalho social, tão importante para a cidade de Arapiraca/AL.